domingo, 2 de maio de 2010

MEIO AMBIENTE E POLÍTICA: A FORMULAÇÃO DO PENSAMENTO AMBIENTAL PARA UM CONTEXTO GLOBAL



Autor: Leandro Oliveira Carneiro[1]

Resumo
A formulação da questão ambiental parece sugerir uma preocupação imediata sobre o futuro da humanidade. A sociedade contemporânea e seus modos de vida necessitam dos recursos naturais, ainda que os seus progressos tragam consigo uma variedade de problemas sobre os ecossistemas como um todo.
Entretanto, mais do que o debate simplificado da necessidade de gestão dos recursos naturais para a sobrevivência planetária, esse texto procura salientar que em um período de mudanças culturais, políticas e econômicas globais, a formulação do pensamento ambientalista carrega, ainda que de maneira oculta, uma forte ideologia capitalista nessas preocupações. O gerenciamento dos elementos naturais e a relação do indivíduo obedecem a uma série de normativas, cujo papel progressista da ciência trouxe também, a apropriação da natureza como elemento cartesiano para que dessa forma haja uma maior interação e ideologia política.
O trabalho aqui apresentado, portanto, busca através de alguns indicativos bibliográficos, discutir como o conhecimento ambiental tornou-se uma bandeira política com disseminação global onde o poder capitalista continua a prevalecer sob a ótica natural.
Palavras-Chaves: Meio Ambiente, Política, Globalização, Capitalismo e Ciência.

Abstract
The formulation of the environmental issue seems to suggest an immediate concern about the future of humanity. Contemporary society and its ways of life need of natural resources, yet their progress to bring with them a variety of problems on ecosystems as a whole.
However, rather than debate the need for simplified management of natural resources for planetary survival, this text argues that in a period of cultural change, and global economic policies, the formulation of environmental thinking loads, even in a hidden way, a strong capitalist ideology these concerns. The management of the natural elements and the relationship of the individual follows a series of rules, the progressive role of science has also brought the appropriation of nature as a Cartesian to so there is greater interaction and political ideology.
The work presented here, therefore, looking through some indicators bibliographic discuss how environmental awareness has become a political banner with the global spread of capitalist power which continues to prevail in the natural optics.
Key Words: Environment, Politics, Globalization, Capitalism and Science

1.      Introdução
As mudanças de ordem cultural, social, econômica e política, principalmente, envolvendo os séculos XX e agora os primeiros anos do século XXI são os catalisadores das inúmeras modificações estudados na sociedade moderna. E desse ponto de vista, a formulação de uma preocupação ambiental se traduz com fidelidade sobre essas mudanças por envolver domínios que tratam da política e de um alcance além das fronteiras dos países.
Entretanto, se faz necessário indagar as razões de construção do discurso sobre o meio ambiente e suas diretrizes. O seu alcance em escala global é responsável por novas interações que envolvem a mídia, a ordem econômica vigente, o consumo através da sociedade, etc. Partindo disso, falar da questão ambiental é falar do processo de globalização.
Este texto parte da premissa de que a preocupação em torno de preservação do meio ambiente foi “absorvido” pelo sistema capitalista através de discussões políticas e científicas, e cujos limites de atuação foram conduzidos sistematicamente pelos seus autores, de forma a dar um status de compreensão exata da natureza para a sociedade sob a ótica econômica, mas notar alguns pontos de resistência no espaço global de discussão.

2.      A formulação do conhecimento ambiental e suas implicações
As raízes fundamentais sobre o meio ambiente como preocupação e prioridade para as sociedades, principalmente ocidentais, surgiram entre as décadas de 60 e 70 onde autores como EKIRCH (1963)[2], NASH (1967)[3], REICH (1970)[4], WORSTER (1973)[5], entre outros já traziam discussões históricas e filosóficas sobre a questão ambiental já que até aquele momento, este tema tinha como pano de fundo a denuncia pública.
Em outras partes do planeta, o assunto meio ambiente também vai ganhando mais expansão fora do território americano com CARSON (1962)[6], como exemplo, alertando sobre a demanda elevada de uso dos recursos naturais em escala jamais vista.
Essas iniciativas corroboram para uma influência até de certo ponto romântica sobre um tema que na verdade passa a ser gestado sob outras influências. Isso porque, segundo LEFF (2001, pág. 22), “o processo interno e expansivo da acumulação capitalista gera a necessidade de ampliar o âmbito natural que, como objetos de trabalho, se apresenta ao mesmo tempo como objetos cognoscíveis”.
O que torna a discussão ambiental em um primeiro momento visível ao mundo, está centralizado na formação dos controles sob a ótica capitalista e liberal tão somente sobre os recursos naturais. Ou seja, o tratamento entre recursos naturais versus o seu uso pela crescente demanda populacional mostra uma visão malthusiana do processo. MOREIRA (1987, p.58) diz em um primeiro momento que “[...] o desequilíbrio populacional, expresso como desequilíbrio da relação ‘necessidades x recursos’, é o núcleo e ponto de partida de uma cadeia de desequilíbrios: ecológico, urbano, regional, econômico, social...”, e mais além o quadro para essa situação é amplamente reforçado já que “o poder da população é o seu impulso biológico, a ‘paixão’ entre os sexos’, que conflita com a ‘avareza natural dos solos’; [...] o poder da população é infinitamente maior que o poder da terra.” (IDEM, p. 63)
Isso também é tratado por FOSTER (2005), ao analisar que Marx no século XIX ao elaborar os fundamentos da concepção materialista da natureza, previu a necessidade ou a ampliação do movimento de uma sociedade dos produtores associados com o objetivo de governar o metabolismo humano de maneira ímpar e racional, o que portanto, demonstrava as aspirações de novas modalidades e capacidades da burguesia para atender demandas crescentes da população.
Aqui, a discussão do pensamento ambiental ainda está concentrada em uma ótica simplista do processo que hoje desponta fortemente de base técnica e cientifica. Se em um primeiro momento, a humanidade sob a égide do capitalismo e das divisões naturais[7] do trabalho testemunha a acumulação extensiva fabril, o trabalho precisava ter como meta uma eficiência produtiva desses processos. É onde se destaca a ciência como força motriz dessa modificação.
As práticas sociais de transformação sociais já avaliadas por Marx não se limitam ou se baseiam tão somente em produções teóricas. Existe um contraponto experimental introduzido pelas ciências. Isso porque, “a luta social pelo conhecimento determina a produção teórica a partir do saber imperante num momento histórico, assim como a inovação tecnológica e suas aplicações sociais e produtivas, ou seja, as formas de exploração da natureza e da força do trabalho” (LEFF, 2001, p. 36)
É o conhecimento científico produzido sobre o arcabouço de um universo exato ou numérico que possibilita uma lógica padronizada ou mesmo universal do saber, e da forma como o trabalho necessita ser elaborado, conduzido e explorado através de gestão dos recursos naturais.
É inevitável trazer a essa discussão de maneira sintética os conceitos de ‘valor’, ‘infra-estrutura’ e ‘superestrutura’. A primeira se dispõe a tratar do tempo social que é necessário para se produzir uma determinada mercadoria. A infra-estrutura diz respeito a formação da base da sociedade que está alicerçada pelo modo de produção vigente, seja tecnologicamente ou economicamente. Já a superestrutura é representada por ideais, instituições de ordens diferentes (religiosas, jurídicas, etc.).
São as mudanças ocasionadas na infra-estrutura que transformam a superestrutura e por si só, as mudanças do modo de produção tecnológicas e econômicas de valoração do mundo exato e científico e que auxiliam na perpetuação de uma natureza que se desfaz invariavelmente, do ponto de vista do trabalho aqui explicitado, de outras normativas culturais e sociais. No caso do ‘valor’, este agora é mapeado e controlado pelas novas técnicas científicas adotadas em prol de metas produtivas.
É dentro dessa esfera que a transformação da sociedade dá origem a um pensamento ambiental científico, capitalista e ideologicamente compromissado com as ciências. Os ecossistemas ou meios em que o ser humano está inserido e as modificações ao longo do tempo, apresentam-se como um nicho de várias ciências, tal como a ciência biológica, por exemplo, embora limitado. Mas como LEFF (2001, p. 33) afirma:
Os processos de transformação dos ecossistemas não dependem tão-somente das leis biológicas da evolução, senão que se vêem afetados e superdeterminados pela apropriação econômica dos recursos naturais. A reprodução do capital não pode integrar-se ao objeto da ecologia. Por isso, o estudo da transformação dos ecossistemas implica a articulação dos efeitos do modo de produção sobre os efeitos naturais e biológicos provenientes da estrutura funcional de cada ecossistema.

Ou seja, a própria ciência necessita adaptar-se a cada ambiente a ser englobado pelos novos métodos de concepção e de articulação técnica do trabalho. O papel da ciência, ao adentrar em novos espaços, importa e aplica as experiências anteriores através das suas teorias e práticas para um novo experimento. Mas para isso, a ciência, ao moldar-se introduzindo o conhecimento em outro campo de conhecimento pré-existente, necessita de que outras ciências sejam discutidas e criadas, como ocorreu com a Genética, a Bioquímica, a Geoquímica, a Geologia, etc.:
Partindo dessas premissas, a interdisciplinaridade propôs como uma metodologia tanto para o avanço do conhecimento como para a resolução de problemas práticos. Daí se produziu uma série imaginária de “ciências ambientais” que, sendo um leque de disciplinas, especializações e técnicas para uma prática de ecodesenvolvimento, não possuem objetos científicos propriamente ditos. (IDEM, 2001, p. 49)

Dessas ramificações, derivam algumas problemáticas da vida moderna, como a personificação da qualidade ambiental através dos licenciamentos mediante políticas públicas, os conflitos entre comunidades e empreendedores, o alcance ou a sistemática avaliação da educação ambiental e sua efetividade, entre outros aspectos.
A natureza, sob a ótica capital e científica, precisa então ser reconhecida como algo econômico e passivo de controle racional. Entretanto, a desigualdade de conhecimento sobre como, quanto, quando e que tipo de controle começa a ser adotado, torna a balança entre capitalismo e sociedade amplamente desfavorável para o segundo. Essa percepção, portanto, retorna aos anos 70, com o avanço profundo da ciência e com a necessidade de representar a natureza em elemento concreto para o capital e para os que irão viver dos seus recursos. Sintetiza, na visão desse autor, como representante maior dessa colocação, a padronização que vem sendo estabelecida em caráter mundial pelos grandes conglomerados econômicos através das certificações como a ISO 14001.
As políticas públicas de gestão do ambiente, no caso brasileiro também[8], adotadas em início da década de 80, são formuladas com o intuito de tornar os recursos naturais compreendidos sob uma multidisciplinaridade científica envolvendo diversos profissionais.
Ao buscar a racionalização da ecologia e seu custo capital para o negócio (e por conseqüência a gestão dos elementos naturais) e para a sociedade, é necessário o desenvolvimento de novos instrumentos técnicos, ordenações legais, legitimações, que concretizem a racionalidade do discurso de apropriação da natureza pelo capital.

3.      GLOBALIZAÇÃO E SUA NOVA POLÍTICA: OS CAMPOS E EMBATES PARA A QUESTÃO AMBIENTAL
O século anterior trouxe mudanças significativas para a humanidade. Mais especificamente, o fim desse período a partir da década de 80 entrou nos círculos de discussão intelectual com grande sobriedade, devido ao grau de transformações em que a sociedade ocidental, principalmente, vivenciou e continua a vivenciar.
As inovações tecnológicas e suas derivações em redes pelas mais diversas esferas, produziram aquilo que ficou formalmente conhecido pela globalização, principalmente no advento e crescimento de instituições supranacionais capitalistas. HARVEY (2003), na sua obra Condição Pós-Moderna, suscita que à medida que a tecnologia se incorpora cada vez mais rapidamente ao cotidiano humano, diminui o “tamanho do mundo” consideravelmente. Assim também cita FRIEDMAN (2004) ao constituir seu pensamento de análise dessa globalização econômica ao categorizar que o mundo “não é mais redondo, mas plano”.
O processo global mais visível decorreu da complexidade e grau do capitalismo em que este se encontrava. Entretanto, MARX e ENGELS (2003, p. 29) já afirmavam que tal processo de extensão capitalista seria inevitável, devido a sua natureza:
Todas as relações fixas, seguras, cristalizadas, com sua comitiva de antigos e veneráveis preconceitos e opiniões, são varridas e, aquelas recém-construídas, tornam-se obsoletas antes mesmo de se ossificarem. Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo aquilo que é sagrado é profanado e o homem finalmente se vê compelido a encarar, com sobriedade, suas verdadeiras condições de vida e suas relações com seu pares. A necessidade de um mercado em constante expansão para seus produtos atormenta a burguesia em todo o planeta. Ela precisa imiscuir-se por toda parte, estabelecer-se em todos os lugares, forjar elos por todo lado. A exploração do mercado mundial pela burguesia permitiu-lhe conferir um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países e, para profundo dissabor dos reacionários, ela puxou debaixo dos pés da indústria as bandeiras nacionais sobre as quais se erguia. Todas as indústrias nacionais ancestrais foram destruídas ou sofrem assaltos diários e vêem-se desalojadas por outras novas, cuja introdução se torna uma questão de vida ou morte para todas as nações civilizadas; por outras que já não utilizam matérias-primas locais, mas provenientes das mais remotas plagas, indústrias cujos produtos são consumidos não só em casa, mas em todos os cantos do planeta. Em vez dos antigos desejos, atendidos pela produção do país, deparamo-nos com novos anseios, para cuja satisfação se fazem necessários produtos de terras e climas distantes. Em vez do velho isolamento e auto-suficiência nacionais, temos o intercurso em todos os sentidos, a interdependência universal das nações. E, assim como no âmbito da produção material, também na esfera intelectual. As criações intelectuais de diferentes países tornam-se propriedades comum. A unilateralidade e a intolerância são cada vez mais inviáveis, e do sem número de literaturas nacionais e locais emerge uma literatura mundial.
A burguesia, mediante o rápido aprimoramento de todos os instrumentos de produção, mediante meios de comunicação imensamente facilitados, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização.

Embora tenha sido apresentada uma visão econômica do processo global, as dimensões do fenômeno agora são atuantes sob o ponto de vista cultural, religioso, interpessoal, ecológico, etc. VIOLA (1996) é um dos autores que trata dessas questões ao explanar sobre algumas das dimensões desses aspectos sob a ótica da globalização.
No caso da dimensão ecológica e ambiental, segundo o autor, há uma ampliação da consciência global da degradação ambiental a partir dos anos 80 e onde se desenha a percepção de um conceito internacional para um de sistema global, mediante apoio científico, pois “é fundamental evitar as tentações conucopianas (a humanidade por meio da tecnologia, resolve sempre todos os problemas) e neo-romântica (para o desenvolvimento científico-técnico e focalizar-se apenas na reforma dos padrões de consumo e do modo de vida.” Tal argumento também é colocado por GIDDENS (2001, p. 315-316), já que com a mudança de visão de compreensão do mundo e nesse caso do ambientalismo, “[...] a natureza não existe mais! Já não podemos defender a natureza na forma natural do mesmo que não podemos defender a tradição de maneira tradicional”.
O pensamento político ambiental que antes encontrava-se reduzido passa a receber intensa movimentação de infinitos setores e com isso, é inevitável o surgimento de novos atores para o palco da discussão sobre os efeitos frente aos recursos naturais em escala mundial. Segundo VIOLA (1996, p. 28):
Considerando-se as questões de meio ambiente e desenvolvimento podem definir-se três clivagens principais na dinâmica da política internacional: a primeira entre as forças cujos interesses e orientação estão dentro do Estado-Nação (nacionalistas) versus as forças cujos interesses e orientação localizam-se na escala mundial (globalistas); a segunda entre as forças que assumem a projeção ambiental como uma dimensão fundamental a ser combinada com o desenvolvimento econômico (sustentabilistas) versus as forças favoráveis ao desenvolvimento econômico sem considerar proteção ambiental (predatórios); a terceira entre as forças favoráveis a certa redistribuição progressiva da renda a escala nacional e internacional (progressistas) versus as forças conservadoras do ponto de vista social.

São essas novas forças que hoje procuram conduzir politicamente a questão ambiental. E como tal, o contexto de discussão do meio ambiente são traços também de um rompimento da tradição do modo de vida, o que Giddens afirmou ser uma nova ‘política de vida’. Nesse nicho, podemos mencionar a interrogação sobre a qualidade de vida, em que esta contextualiza de sobremaneira a necessidade humana e o processo necessário para satisfazê-la.
A noção de qualidade de vida emerge no momento em que a sociedade “opulenta” parecia libertar-se da etapa na qual o processo econômico era construído como um processo de produção de riqueza fundamentado no conceito de escassez, bem como da economia forçada, como necessidade para a acumulação de excedentes e a expansão do capital. A ênfase nos aspectos qualitativos das condições de vida representa a percepção da degradação do bem-estar gerada pela crescente produção de mercadorias, a deterioração dos bens naturais comuns e dos serviços públicos básicos e a homogeneização dos padrões de consumo. (LEFF, 2001, p. 147)

O debate em torno da apropriação do mercado sobre a natureza através daqueles que se opõem a uma abordagem meramente científica-capital, encontraram nas experiências cotidianas elementos de contradição ao funcionamento do discurso ideológico ambiental dominante. Giddens também nos traz um importante arcabouço a esses fatos quando ele afirma que a democracia dialógica se torna importante fio condutor para que o debate nas sociedades ocidentais (principalmente) permita uma discussão pública desses assuntos. Ou seja, a pavimentação de constituintes sociais de uma comunidade, por exemplo, passam a ser relevantes para o modo de pensar o meio ambiente. Essa mudança (via Estado) pode ser vista gradualmente através das políticas de licenciamento ambiental:
A racionalidade instrumental implícita num processo de gestão ambiental realça o fato de que a racionalidade social não é tão-somente a impressão de uma lógica abstrata (do mercado, do valor) ou a expressão sobredeterminada da estrutura econômica, mas resultante de um conjunto de normas e ações sociais que limitam o uso da lei (do mercado) por uma classe e buscam conciliar interesses ambientais opostos. (LEFF, 2001, p. 133)

Duas racionalidades, segundo LEFF (2001, p. 137) estão no centro do debate político sobre o meio ambiente global: a racionalidade ambiental e a racionalidade capitalista. Ainda que o segundo se sobreponha ao primeiro, é importante perceber a reação política através de instrumentos legais legítimos e democraticamente disponíveis. A racionalidade ambiental “emerge como um projeto social de resposta a outra racionalidade que teve seu período histórico de construção, legitimação, instrumentalização e tecnologização”. E por qual razão a racionalidade capitalista ainda é sobrepujante? Pelo uso de técnicas instrumentais que permitem a manipulação e visão concreta do cotidiano através da produtividade e eficiência, já que a “racionalidade ambiental apoiou-se mais na legitimação de seus valores (pluralidade étnica, fortalecimento de economias autogestionárias não-acumulativas) que em seus meios instrumentais.”.
A crise ambiental vigente neste início de século parece corresponder também a uma crise política derivadas dos limites da racionalidade econômica já explanada. E se assim for, a crise do Estado pode estar vinculada a um desgaste de legitimidade e de que forma são representadas o tema meio ambiente para discussão. O Estado-Nação defronta-se com um problema flexível (articulado por grupos também flexíveis como o Greenpeace, WWF) e sua natureza ainda é estática, e muitas vezes apoiada por instituições jurídicas que não conseguem acompanhar as mudanças em curso. Isso torna então a crise permanente do ponto de vista do tema ambiental, pois o debate está sempre suscitando que, com a participação da sociedade civil, os paradigmas de sustentabilidade, político e econômico sejam revistos com toda brevidade.
 
  1. CONCLUSÃO
A questão ambiental e sua compreensão sob uma ótica global, certamente irá receber cada vez mais contribuições para que o debate se aprofunde sobre quais as formas de desenvolvimento e uso desse tema. Assim como o surgimento de novos atores para participar dos aspectos políticos e econômicos e que irão influenciar o pensamento ambiental no futuro a frente, é inegável que o meio ambiente e sua relação na sociedade contemporânea ainda está sob a influência ideológica na qual ainda se buscam alternativas de inclusão ou mesmo do discurso da preservação dos recursos naturais.
Obviamente que o tema aqui ainda precisaria ser ampliado de maneira significativa, pois o Brasil (aqui praticamente não analisado) parece ser um dos contribuintes de maior impacto a essa discussão de um pensamento ambiental devido a uma demanda histórica da sua população que almeja um modelo de desenvolvimento concreto e sustentado, mas ao mesmo tempo, encontra-se como o personagem principal dos embates envolvendo aspectos culturais e saberes ambientais de forte apelo e que não podem ser desprezado.
A ciência encontrou definitivamente o seu lugar na historia humana, ao inegavelmente concretizar avanços gigantescos para a sociedade. Graças a ela, o mundo definitivamente é praticamente “acessível” de acordo com o meio de comunicação que se utiliza, na medida em que outros saberes culturais também são difundidos. Mas o seu papel também carrega fortes contradições, cuja democracia dos seus serviços ou resultados serve a uma lógica que nasceu ainda no século XIX com a Revolução Industrial. E ao perceber esse espaço, o capitalismo enxergou na natureza uma forma de que ao se apropriar ou gerir os seus recursos, seria possível normatizar grande parte da sociedade.
A grande lacuna a ser preenchida é que a racionalidade ambiental parece estar apoiada em uma teoria ainda em fase de construção sobre que alternativas podem ser apresentadas (e se elas existem de fato fora da base do capital). A racionalidade capitalista, ao contrário, entregou ao mundo uma maneira cuja sustentação se dá pela prerrogativa de que quanto maior o seu alcance, menor as possibilidades de um debate que não seja pelas suas características, pois o desenvolvimento só é realizado pela presença do capital. É dessa forma que se dá como exemplo, a presença de um empreendimento frente a lugares de nenhum ou baixo grau de capitalismo (comunidades tradicionais isoladas).
O pensamento ambiental moldou-se a necessidade da ideologia vigente. É assim, através de um processo de mercantilização da idéia em prol do discurso ambiental, que as grandes corporações enxergaram e enxergam suas formas de administrar a base da sua existência: o consumo.
O debate sobre a questão ambiental no mundo está definitivamente colocado, ainda que desequilibrado se considerarmos o poder dos seus atores. Novas perspectivas sempre surgirão e é sob essa ótica que novas posições e desafios para a construção de alternativas podem recriar outro meio de se pensar a questão ambiental.

5.      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOSTER, John Bellamy. A Ecologia de Marx: Materialismo e Natureza. Rio de Janeiro, Ed.
    Civilização Brasileira, 2005.
FRIEDMAN, Thomas. O Mundo é Plano: Uma Breve História do Século XXI. Rio de Janeiro,
    Ed. Objetiva, 2005
GIDDENS, Anthony. Em Defesa da Sociologia: Ensaios, Interpretações e Tréplicas. São
    Paulo, Ed. UNESP, 2001
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança
    cultural. São Paulo, Ed. Loyola, 2003.
LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental. São Paulo, Ed. Cortez, 2001.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo, Instituto José Luis e
    Rosa Sundermann, 2003.
MOREIRA, R. O Discurso do Avesso (Para a crítica da Geografia que se ensina). 1a.. ed.
    Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1987.
VIOLA, Eduardo. A Multidimensionalidade da Globalização, As Novas Formas Sociais
   Transnacionais e seu Impacto na Política Ambiental do Brasil, 1989-1995, in Leila da
   Costa Ferreira e Eduardo Viola (Orgs.). Incertezas de Sustentabilidade na Globalização.
   Campinas, Editora da UNICAMP, 1996.



[1] Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Salvador (UNIFACS), Graduando em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e aluno da Especialização em Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental pela Universidade Salvador (UNIFACS).
[2] EKIRCH, Arthur. Man and Nature in America (1963)
[3] NASH, R. Wilderness and The American Mind (1967)
[4] REICH, Charles. The Greening of America (1970)
[5] WORSTER, Donal. American Environmentalism (1973)
[6] CARSON, Rachel. Silent Spring (1962)
[7] Consideramos aqui a divisão natural de um trabalho tão fortemente associada a uma visão comunitária de sociedades tradicionais, ou o que DURKHEIM, conceituou como Solidariedade Mecânica
[8] No caso brasileiro, essas discussões e movimentos até de certa forma ainda carregados de sentimentos, é a base para que seja inserido timidamente o escopo ambiental no cotidiano brasileiro. Sua concretude só é afirmada em 1973 com a criação da SEMA – Secretaria Especial do Meio Ambiente – cuja atuação se restringia a poluição e impacto de uma economia ainda muito ligada a industrialização. Somente na década de 80, mais precisamente em 1981 é que a questão ambiental ganha “corpo de Política Pública” através da Política Nacional do Meio Ambiente com a sistematização do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), que gerou por conseqüência o CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente).